terça-feira, 20 de maio de 2008

Rede globo: a hipocrisia em horário nobre!

Rede Globo, a rapaziada, a alegria da burguesia e a pseudo-coincidência
Por Mariana Vedder (UFF/Observatório da Indústria Cultural)
E Vamos à luta

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...
Gonzaguinha

Era final de período e os militantes do Movimento Estudantil das Universidades Federais de todo o Brasil estavam preocupados com o futuro de suas instituições de ensino. Mais um decreto do governo Lula, e que dizia expandir vagas, democratizar o ensino, atender aos anseios da sociedade. Porém, na verdade, só pretendia aprofundar ainda mais o sucateamento dessas universidades. Muitas já em estado totalmente precário.Uma noite dessas, me preparando para sair de casa, a televisão estava ligada. Bem no horário da novela das oito. Eis que vejo um grupo de pessoas (?) que pareciam estudantes/militantes incendiando uma escola e chamando a polícia para a briga. Pensei: Mas o que é isso? É o apocalipse? Não, não era o apocalipse, era uma "invasão" da reitoria da universidade particular Pessoa de Moraes, que tem como dona a personagem de Susana Vieira. Lembrei-me de um outro capítulo no qual José Wilker, importante e conhecido pedagogo da trama, durante uma conversa aparentemente informal, dava "aulas" sobre qual a solução para a educação no país. E adivinham o que ele disse? Claro, que a solução era privatizar, promover parcerias com a iniciativa privada, pois tudo o que é público não vai para frente. Pode-se claramente notar que isso não é coincidência.
Enquanto isso, no Brasil, mais de 20 reitorias de universidades federais estavam ocupadas por militantes que lutavam por democracia. Pelo simples direito de voz e voto da comunidade universitária no caso da votação do decreto/projeto do REUNI (Projeto de expansão e reestruturação das universidades federais). E a reitoria da universidade Pessoa de Moraes estava sendo "invadida" por militantes que também lutavam pelo direito de voto, pois o novo reitor havia sido indicado pela dona da instituição. O antigo reitor era marido da personagem, por esse motivo, com a morte dele, Branca Pessoa de Moraes (Susana Vieira), se sentiu livre para indicar quem seria o novo reitor. Uma espécie de Big Brother, no qual o novo líder seria "sugerido" pela Grande Irmã.
No entanto, a diferença entre os militantes da novela e os da "vida real" é que os estereótipos promovidos pela grande mídia são uma constante. Os militantes da vida real apanharam da polícia, foram reprimidos. E os da novela? Quebraram tudo, atearam fogo em pneus e destruíram parte do prédio da universidade. E, além disso, chamaram a polícia para a briga. Gostaria muito de saber qual é o militante que gosta de apanhar. Fato estranho. Mas falando de vandalismo, podemos fazer um balanço dos prejuízos de todas as reitorias de todas as federais que foram ocupadas. Com certeza não chegam aos pés dos prejuízos causados pelos "militantes" criados pela Rede Globo.
Não poderíamos esperar algo muito diferente disso, pois como disse Gramsci:"Os jornais do capitalismo fazem vibrar todas as cordas dos sentimentos pequeno-burgueses; e são estes jornais que asseguram à existência do capitalismo o consenso e a força física dos pequeno-burgueses."É claro que não estamos falando de jornais especificamente, mas essa citação de Gramsci pode ser aplicada a praticamente todos os produtos das corporações midiáticas e de seus idealizadores. É de inteira responsabilidade dessas pessoas a manutenção e afirmação do preconceito para com os membros de qualquer movimento social. Os ataques dessa novela não se dirigem apenas aos estudantes, mas também ao Movimento Negro, aos gays, aos moradores de favelas que, notoriamente, não se reconhecem na Portelinha.
Mas o pior ainda estava por vir. Nos capítulos mais recentes dessa completa maldade televisiva, o alvo tem sido apontado ao pseudo-militante estudantil da universidade em questão. O garoto, que é negro, está movendo um processo contra o reitor da Pessoa de Moraes, personagem de José Wilker, por racismo. Gravou uma conversa entre os dois na qual o reitor chamava o rapaz de zumbi. Então, o militante que nunca aparece nas aulas, que destrói a universidade onde estuda, que agride verbalmente a dona da instituição, chamando-a de fascista toda vez em que a encontra, de repente resolve "se vingar" de um reitor que jamais foi eleito. Como se os membros de movimentos sociais fossem capaz de tal insanidade. É muito descaramento. A imagem do militante (tanto do movimento negro quanto estudantil) construída nessa trama é impressionantemente manipulada e grotesca. De uma inteira falta de dignidade até.Outro fato muito curioso é que só nessa novela o reitor dá aulas. Desconheço outra universidade onde isso ocorre. E o mais inusitado: dá cursos de férias gratuitos para os moradores da favela. Favela esta, controlada por Juvenal Antena (Antonio Fagundes), amigo do reitor e da dona da universidade. Não estou, no caso, criticando a atitude do personagem. Contudo, não consigo ver qualquer semelhança com a realidade das universidades particulares do país. É como se a telenovela fizesse questão de não representar mesmo a realidade. Como se estivesse à margem da realidade social e cultural brasileira. E o pior, como se tivesse orgulho disso. Afinal de contas, o espaço público não é pra ser plural, democrático e representar os mais diversos setores da sociedade? Parece que os "cabeças" da TV Globo não conhecem muito bem as regras de uma concessão pública.
Vale lembrar que, neste ano de 2008, teremos uma ilustre comemoração: os 40 anos do Maio de 1968! Temos muito o que comemorar, principalmente pela inspiração que os acontecimentos da França de 1968 nos traz a cada dia de reflexão e luta por uma universidade, um país e um mundo melhor. E, é claro, esse acontecimento jamais poderia passar em branco pelos olhos da poderosa mídia opressora. Embora seja pelo motivo contrário do nosso, que lembramos com orgulho pelas vitórias alcançadas e com tristeza pelo sofrimento de muitos militantes da época, os donos da comunicação hegemônica logo encontraram um jeito de disputar o sentido desse importante marco na nossa história. Como já disse, não pode ser coincidência. Estudantes ocupando reitorias, tomando ruas, praças avenidas e o que mais tiver para ser tomado; comemorações do Maio de 1968 em 2008; os 90 Anos da Revolução Russa de 1917 lembrados no ano passado. Só poderiam mesmo contra-atacar. E da forma mais perversa possível, pois nossa réplica é desigual. Enquanto a TV Globo alcança cerca de 97% do território nacional, pouquíssimos cidadãos têm acesso à internet ou a meios contra-hegêmonicos que possam trazer concepções diferentes de sociedade.
Eu acredito é na rapaziada. É assim que a trama se inicia todos os dias. Mas eu jamais pude entender quem faz parte dessa rapaziada. De quem eles estão falando quando dizem que adreditam? Confesso que às vezes perco as esperanças por refletir sobre isso, pois a "rapaziada" que a Rede Globo diz acreditar está longe de se parecer com a rapaziada na qual o Movimento Estudantil acredita.
Talvez, a rapaziada que a emissora acredita, assim como todas as organizações midiáticas burguesas, seja a mesma que matou tanta gente no período da ditadura militar; que mata inocentes na guerra do Iraque; que oprime os moradores de favelas e venera o BOPE; que faz questão de produzir sempre mais do mesmo na televisão e em todos os outros meios por eles controlados, ao invés de abrir espaço para a diversidade; etc. Poderíamos encher um livro com exemplos desse tipo. O complicado nisso tudo, é que atitudes como essa não acontecem pela primeira vez. E não deixarão de acontecer até que o poderio da mídia fascista deixe de existir.Mas nós, sim, acreditamos na rapaziada! A rapaziada que vai mudar essa história.

Mitos e ideologias sobre o funk carioca

Mulheres do funk: vítimas ou heroínas?
Por Silvia Barros
Entre os anos 80 e 90 ficamos conhecendo uma nova forma de expressão musical no Brasil. Ainda com influência da música norte-americana, com bases prontas em que se colocavam letras de amor, de afirmação cultural ou irreverentes, o funk se desenvolvia no Rio de Janeiro.
Nos anos 2000 ocorre uma inovação que coloca o “funk carioca” nos “playlists” de descolados mundo a fora. O funk incorpora a batida do atabaque do candomblé ao eletrônico e consolida sua identidade com o som do “tamborzão”. Junto com essa renovação há uma outra novidade, sutil, mas arrebatadora: a entrada das mulheres cantando e compondo funk. Se antes elas estavam apenas atrás dos MC’s dançando coreografias sensuais, agora elas empunham o microfone cantando letras bem mais que sensuais.
A performance altamente erotizada das dançarinas agora é voz. Ela diz: “Eu vou pro baile sem calcinha”, “tá ardendo, tá arranhando, eu tô agüentando” enquanto outras dançam lotando os salões de casas noturnas da classe média, as quadras dos bailes de morros e comunidades, principalmente depois da abertura da televisão para as funkeiras que hoje são “celebridades”.É claro que já havia mulheres MC’s, algumas de grande sucesso, porém não com tamanha visibilidade. Tínhamos Willian e Duda, Cidinho e Doca, Claudinho e Buchecha, MC Marcinho, mas nenhuma menina tão famosa quanto eles. Hoje, nas seqüências das rádios e palcos vemos Os Hawaianos, Juliana e as fogosas, Os Magrinhos, Gaiola das Popozudas, Deise Tigrona com suas letras e coreografias reproduzidas por crianças, adolescentes e adultos.
A mudança de estilo na batida e nas próprias letras dos funks propiciou essa nova atitude. As composições românticas com letras extensas e melódicas deram lugar às repetições quase minimalistas de frases ou palavras incitadoras, ao mesmo tempo em que os vínculos nas relações amorosas e sexuais também iam mudando.
A mulher que canta e dança o funk atual é a mesma que está inserida no contexto da “pegação” diária, da valorização das formas femininas por meio de micro shorts e saias que levantam ao ritmo da dança.
Longe de tentar reproduzir um discurso moralista, percebo uma trajetória que nos leva à ambígua situação das mulheres contemporaneamente. Nós conseguimos maior visibilidade, inserção em diversos locais sociais antes totalmente fechados às mulheres, conquistamos liberdade sexual, o direito de escolhermos nossos parceiros ou parceiras sexuais/afetivos. E continuamos conquistando...
Um lugar mais nobre no palco, o estilo de canto gritado, a possibilidade de falar o que e como queremos. O grupo Gaiola das Popozudas canta “Eu vou pro baile sem calcinha, agora eu sou piranha e ninguém vai me segurar!”. A explosão de expressão física e verbal de sexualidade parece esconder uma outra forma de dominação sobre as mulheres.
Os Hawaianos dizem: “Mina cheia de marra de bam se eu te pego eu te escangalho, na hora do prazer sou eu que faço o trabalho” reafirmando seu poder masculino enquanto elas, para se mostrarem livres dessa dominação querem decidir quando e com quem vão fazer sexo. Contudo nós vemos que essa sexualidade compulsória é também uma troca de posições, já que eles não as possuem forçosamente, mas elas (se) dão, realizando seus fetiches.
O nome Gaiola das Popozudas é um exemplo da necessidade de exibição, estão expostas entre grades para serem vistas, consumidas. Deise “tigrona” incorporou a seu nome o apelido de animal sensual, embora sua postura e aparência nem sejam compatíveis com esse estereótipo. Talvez Deise nem mesmo se sinta uma tigrona, ou uma tigresa, mas aprendeu que há uma necessidade de mercado que a impede de ser somente MC Deise (como ela se apresentava anos atrás). Deise também é a autora do funk “Injeção”, outro exemplo do recurso de fetiche, com a brincadeira de médico, e o sadomasoquismo:
Quando eu vou ao médico
Sinto uma dor
Quer me dar injeção
Olha o papo do Dr.:
Injeção dói quando fura,
Arranha quando entra
Doutor, assim não dá,
Minha poupança não agüenta!
Tá ardendo,mas tô agüentando,
Arranhando,mas tô agüentando
Tá ardendo eu tô agüentando!
Arranhando, eu tô agüentando!
Percebemos, assim, que as possibilidades abertas às mulheres no meio funk as levam ao uso de seus corpos como atrativos. O erotismo dá o mote do apelo ao consumo. Seus corpos estão disponíveis em dvds piratas e originais, no youtube, e em quantos mais veículos de mídia puderem estar. É claro que essas moças não são vítimas indefesas nem estão presas a um “destino de mulher objeto”, mas sentindo-se heroínas da favela não percebem quem muitas vezes são ridicularizadas ganhando apelidos como a “mulher melancia” (do grupo do MC Créu) que em foto para capa revista (publicação comum sobre novelas e famosos) posava de costas com as mãos nos joelhos vestindo um shortinho apertado.

Postado por Observatório da Indústria Cultural

segunda-feira, 19 de maio de 2008

ABUJAMRA NA LETRAS!!!

27 de Maio - TERÇA-FEIRA
Antonio Abujamra do programa "Provocações" na UFRJ

Evento: "A voz do provocador"

Faculdade de letras - 11h no G1

CINEMA '68

CINEMA

Para ver e rever 68
Dicas do Professor da USP Wilson H. da Silva



O cinema sempre mantém um complexo reflexo com a realidade. “Espelhos” distorcidos daquilo que se passa nos corações e mentes, ruas e encruzilhadas de uma sociedade, os filmes sempre servem como fontes extremamente interessantes sobre uma época. Tanto da época em que ele foi produzido quanto da época em que ele retrata.Por isso, as dicas abaixo se dividem em duas partes. A primeira traz os filmes que estavam sendo vistos em 1968 ou foram produzidos sob o impacto de seus ventos rebeldes. Filmes que não só refletem aquele contexto como também mantiveram um importante diálogo com a juventude da época, na medida em que colocavam diante de seus olhos profundos questionamentos sobre a realidade, o comportamento e tudo mais que estava sendo debatido e combatido nas ruas mundo afora.A segunda traz filmes que, produzidos nas décadas posteriores, voltam-se para aquele período, sempre marcados pelas contradições existentes no momento em que foram produzidos.


O que se via em 1968

2001: uma odisséia no espaço (EUA, 1968)
Considerado, com justiça, um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos, o filme foi dirigido, em 1968, por Stanley Kubrick. Baseado em duas obras de Arthur C. Clarke, o filme é “ousado” em todos os sentidos. Desde sua estranha forma (em seus 139 minutos, há apenas 40 diálogos) e inovadores efeitos especiais até sua intricada narrativa que analisa a evolução do Homem, desde os primeiros hominídeos capazes de usar instrumentos, até a era espacial e para muito além disso, num futuro onde o computador HAL (possível menção à IBM, cujas iniciais são as imediatamente posteriores às da máquina) controla e sabota a nave Discovery em sua missão de exploração a uma enigmática placa negra que é vista no decorrer de toda a história. O embate entre homem e máquina e o discurso humanista que contamina toda a narrativa são, evidentemente, marcas do clima existente no final da década de 1960.

Ao mestre com carinho (EUA, 1967)
Filmado no ano anterior, o filme de James Clavell, que levou o ator negro Sidney Poitier ao estrelato, só poderia ter sido feito nos Estados Unidos numa época na qual o questionamento sobre o racismo estava no olho do furação das mobilizações que sacudiam o país. Apesar de se passar num bairro operário de Londres, a saga do professor negro e dos, inicialmente, “rebeldes sem causa” estudantes, é uma metáfora (um tanto lacrimejante, é verdade) para as mudanças nas relações raciais e sociais que estavam em curso, coisa que fica particularmente evidente no conteúdo das aulas que, abandonaram o burocrático programa curricular, mergulham em temas como sexo, família, comportamento, política, classes sociais etc.

Adivinhe quem vem para jantar (EUA, 1967)
Outra inesquecível contribuição de Sidney Poitier para a história do cinema e para o debate sobre o racismo. Dirigido por Stanley Kramer, o filme gira em torno do desconfortável jantar em que a filha de um rico e liberal proprietário de um jornal de São Francisco e sua mulher são confrontados pela filha quando ela leva seu namorado (um médico negro) e os pais dele para jantar (e anunciar o casamento). A hipocrisia do discurso liberal e as contradições da racista sociedade norte-americana explodem por todos os lados, em interpretações memoráveis.

O bandido da luz vermelha (Brasil, 1968)
Marco nacional das contradições imposta pelo ano de 1968, particularmente em um país onde se vivia o aprofundamento da ditadura, o filme dirigido por Rogério Sganzerla e considerado ícone do “Cinema Marginal”, é baseado na vida do famoso criminoso João Acácio Pereira da Costa, o "Bandido da Luz Vermelha". A forma utilizada para contar a violenta trajetória de João Acácio, serve como argumento para que o então jovem diretor (com apenas 22 anos) vasculhe de uma forma ultra interessante, os bastidores da mídia sensacionalista e outras tantas mazelas que circulam em torno e na raiz da criminalidade. A bela da tarde (França, 1967)Mergulhado no sempre surpreendente (e, muitas vezes, surrealista) universo do cineasta Luis Buñuel, o filme traz Catherine Deneuve no papel de uma entediada dona de casa de classe-média que, sem maiores explicações, decidi trabalhar diariamente, das 14 às 17 horas, num bordel onde se entrega à satisfação de suas fantasias sadomasoquistas.

Barbarella (EUA, 1968)
Talvez um dos mais deliciosos “delírios” da história do cinema, o filme foi estrelado pela, na época, engajada Jane Fonda – cuja militância anti-guerra e pró direitos civis, fez com que ele ganhasse o codinome de “Jane, a vermelha”, na imprensa conservadora. Barbarella é a ultra-sexy heroína intergalática no século 41 (!!!) destinada a salvar o universo de uma guerra final. Bonnie e Clyde: uma rajada de balas (EUA, 1967)Exemplo de que os filmes sempre falam muito mais sobre o contexto de sua produção do que sobre a época que eles retratam, o filme dirigido por Arthur Penn traz Warren Beatty e Faye Dunaway nos papéis do casal de assaltantes que se tornou famoso nos anos 1930. O filme tem a “Grande Depressão” como pano de fundo e uma narrativa inegavelmente simpática em relação aos “bandidos”.

Fahrenheit 451 (França, 1966)
Rodado dois anos antes da rebelião juvenil, o filme – adaptado do romance homônimo de Ray Bradbury e dirigido por François Truffaut –, o filme se passa num futuro hipotético, no qual os livros e toda forma de escrita são proibidos por um regime totalitário, sob o argumento de que eles fazem as pessoas infelizes e improdutivas. Quando alguém é flagrado lendo é preso e "reeducado". Se uma casa tem muitos livros e um vizinho denuncia, os "bombeiros" são chamados para incendiá-la. Daí o título: “fahrenheit 451” é a temperatura necessária para incinerar o papel. O conflito se estabelece quando um destes “bombeiros” se apaixona pelos livros que deveria incendiar, é levado a rebelar-se contra o sistema que defendia e começa uma fuga que o levará a conhecer outros como ele que vivem em comunidades de “homens-livros”, que assumem, literalmente, a personalidade de uma das grandes obras mundiais para poder mantê-las vivas. Marco fundamental da crítica à industrialização e padronização da cultura e a mediocritização generalizada, o filme, em muito, ajudou a inflamar corações e mentes da época.

“If...” (Inglaterra, 1968)
Dirigido por Lindsay Anderson, em meio aos ventos rebeldes e revolucionários do Maio de 68, o filme, cuja título é “Se..” é, em muitos sentidos uma das produções culturais mais radicais que resultou daquele contexto histórico. Subvertendo completamente a típica narrativa baseada na difícil convivência da diversidade nas elitizadas escolas britânicas, o filme apresenta Malcolm McDowell (que depois seria imortalizado por seu desempenho no também “polêmico” Laranja mecânica) como líder de uma grupo de jovens que, por diversas razôes – ideológicas, sexuais, sociais etc. – se rebelam contra o sistema opressivo de sua escola. A poética radicalidade desta rebelião fez com que o filme, apesar de premiado em Cannes, tenha sofrido forte censura mundo afora.

Partner (Itália, 1968)
Realizado durante o auge do movimento estudantil de 1968, Partner é um dos filmes mais radicais do cineasta italiano Bernardo Bertolucci. Baseando-se livremente no livro “O duplo” (1846), do genial Fiódor Dostoiévski, o filme conta a história de Jacob, um estudante com idéias revolucionárias cuja existência solitária é abalada pelo aparecimento de seu duplo, que o incentiva a ter um maior engajamento político. Exemplo do que se convencional chamar de “filme-manifesto”, a obra de Bertolucci navega livre e belamente pelas teorias de Karl Marx, Sigmund Freud e Jean-Luc Godard e uns tantos outros pensadores e realizadores que marcaram a geração de 1968. A chinesa (França, 1967)Considerado um dos melhores e mais radicais filmes do cineasta francês Jean-Luc Godard, o filme é quase “profético” em relação ao Maio de 68, na medida em que coloca em cena um grupo de estudantes que planeja ações terroristas com o mesmo entusiasmo que discute temas como o “Livro Vermelho” de Mao, a Revolução Chinesa e o socialismo.

A primeira noite de um homem (EUA, 1967)
No início de 1968, os jovens do mundo inteiro ainda estavam encantados com o filme de Mike Nichols, estrelado por Anne Bancroft e Dustin Hoffman e musicado por Paul Simon e Arthur Garfunkel. Nele, o recém formado estudante volta para sua casa e família burguesas cheio das indecisões, contradições e questionamentos que tumultuavam as cabeças dos jovens de sua geração. O fato de envolver-se amorosamente com a complicadíssima Sra. Robinson e, quase que simultaneamente, com sua filha, já jogam mais lenha nesta fogueira.

A sociedade do espetáculo (França, 1967)
Concebido a partir do texto mais famoso de Guy Dubord, publicado em 1967, o filme expressa as principais idéias da Internacional Situacionista, o movimento político cultural que procurava organizar as diversas formas de vanguarda na rebelião de 68. Nele, o foco central é o papel dos meios de comunicação na massificação e dominação das sociedades modernas.

Teorema (Itália, 1968)
Considerado uma das mais radicais obras do período e uma dos filmes mais importantes do cineasta Pier Paolo Pasolini – cuja aberta homossexualidade e militância comunista o colocava no centro dos debates de 1968 –, Teorema traz Terence Stamp no papel de um estranho e inusitado visitante que, chegando à mansão de uma família burguesa – cada qual representante metafórico de uma instituição ou segmento social da Itália –, destrói todas as convenções e certezas ao seduzir, um a um, todos os seus membros: pai, mãe, filho, filha e, até mesmo, a empregada da casa, cujo final reflete a importância que Pasolini dava às camadas mais exploradas do país. No ano seguinte, Pasolini ainda realizaria Pocilga, uma visceral metáfora à rebelião juvenil de 68, na qual um dos personagens centrais rebela-se contra a sociedade, sua família burguesa, seu pai autoritário, as convenções sexuais e sociais, fazendo ecoar uma frase que, de forma radical, expressa a essência do significado de 1968 para toda uma geração: “eu matei meu pai, bebi seu sangue e tremo de alegria”.

O que ver sobre 1968

Corações e mentes (EUA, 1974)
Documentário dirigido por Peter Davis que marcou época na história do cinema ao levar para as telas uma cáustica análise sobre a Guerra do Vietnã, a partir de uma brilhante edição de imagens da guerra e entrevistas com pessoas de ambos os lados no conflito – ex-combatentes norte-americanos e sobreviventes vietnamitas. Nas entrevistas, além de comoventes depoimentos, brotam questões que vão do racismo ao autoritarismo, da crueldade da guerra aos dramas pessoais.

Edukators (Alemanha/Áustria, 2004)
Dirigido por Hasn Weingarther e estrelado por Daniel Brühl (do também excelente “Adeus, Lenin!”), o filme acompanha as desventuras de um grupo de jovens que se autodenominam “educadores” e promovem um inusitado tipo de protesto: invadir mansões burguesas e, sem roubar nada, desarrumar toda a mobília, rearranjando-a de maneira bizarra, deixando apenas pichações e bilhetes com frases como “Seus dias de fartura estão contados” ou “Todo coração é uma célula revolucionária”. Metáfora para uma época em que a rebelião juvenil e seu inerente desejo de “reordenar o mundo” perdem-se ou distorcem-se em meio aos ataques da ideologia neoliberal, o filme promove (de forma também inesperada) o “encontro” entre estes jovens e um burguês que, arvorando-se de seu passado como revolucionário, em 1968, tenta convencê-los da inutilidade de sua rebeldia.

Hair (EUA, 1979)
Um dos mais belos e emocionantes musicais de todos os tempos. Dirigido por Milos Forman – com roteiro baseado em espetáculo homônimo da Broadway, escrito por de Gerome Ragni e James Rado, lançado exatamente em 1968 –, o filme narra a trajetória de Claude, um jovem interiorano que, de passagem por Nova York, um dia antes de se alistar para a ir a Guerra do Vietnã, conhece um grupo de hippies, com os quais passa a conviver e com quem aprende a ver o outro lado da guerra e da própria vida. O filme traz algumas música que se tornaram verdadeiros hinos da contracultura, como “Let the Sunshine In” e “Aquarius”.

Hércules 56 (Brasil, 2006)
Documentário dirigido por Silvio Da-Rin sobre a luta armada contra o regime militar, focado no seqüestro do embaixador Charles Elbrick, ocorrido na semana da Independência de 1969. Em troca do diplomata, foi exigida a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos, representantes de todas as tendências que combatiam a ditadura. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, foram conduzidos ao México no avião da FAB Hércules 56.

A insustentável leveza do ser (EUA, 1988)
Baseado no belíssimo romance de Milan Kundera, o filme de Phillip Kaufman é contextualizado na Tchecoslováquia, durante a Primavera de Praga. A narrativa acompanha a trajetória de um jovem cirurgião e seu sempre conturbado relacionamento com duas mulheres, a interiorana esposa e a ousada artista plástica, que servem como metáforas para a encruzilhada em que o país se encontrava.

Panteras negras (EUA, 1995)
Dirigido pelo cineasta negro Mario Van Peebles, o filme faz um excelente resgate da história do mais radical dos grupos norte-americanos que se organizaram para combater o racismo, da sua criação, em 1967, em Oakland, na Califórnia – quando Huey Newton e Bobby Seale formam um novo partido dedicado a proteger os negros das violentas arbitrariedades dos policiais brancos – até o início dos criminosos ataques, que envolveram do FBI à elite conservador, e provocaram sua dispersão.

Os sonhadores (EUA/França/Itália, 2003)
Exemplo de como, ao voltar-se para o passado, o cinema carrega as tensões e marcas do momento em que os filmes são feitos, o belíssimo filme de Bernardo Bertolucci, narra a trajetória de Matthew, um jovem norte-americano que, em 1968, vai estudar em Paris. Lá ele conhece os irmãos gêmeos Isabelle e Theo. O complexo relacionamento entre eles tem como pano de fundo e “motor” a efervescência política, cultural e comportamental que varre as ruas de Paris durante a rebelião estudantil em maio de 1968. Embalados pelas palavras de ordem que decoravam os muros da cidade, dentre elas a que dizia “Toda petição é um poema, todo poema é uma petição”, os jovens seguem por uma trajetória cujos desdobramentos, tanto nas vidas dos personagens quando no próprio desenrolar da história, é embalada por uma das mais belas canções de Edith Piaf, “Je ne regrette rien” (Eu não me arrependo de nada), como um lembrete de que nada daquilo foi em vão.

Zabriskie Point (EUA, 1970)
Dirigido pelo italiano Michelangelo Antonioni – que também esteve à frente, em 1966, de “Blow Up”, outro marco do cinema – o filme tem como tema o movimento contracultural nos EUA na época. A narrativa e estrutura do filme, ainda profundamente marcadas pelo “calor do momento”, acompanham a história de um jovem casal, uma jovem secretária idealista e um militante radical, e seus embates com o sistema. O título faz uma referência ao monumento natural Zabriskie Point, no Vale da Morte, na Califórnia, EUA. A trilha sonora inclui músicas de alguns dos principais ícones da época, como Pink Floyd, The Youngbloods, The Kaleidoscope, Jerry Garcia, Patti Page e Grateful Dead .

terça-feira, 6 de maio de 2008

"Cantando o samba na universidade"

-Projeto Cantando o Samba na Universidade –

O mestre Candeia foi até os últimos anos de sua vida coerente com seus ideais, em dezembro de 75 rompeu com a Portela e fundou a Escola de Samba Quilombo, que deveria carregar a bandeira do samba autêntico. O documento que delineava os objetivos de sua nova escola dizia: Escola de Samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo. Desde 75 Candeia já criticava a promiscuidade que ia virar mais a frente o carnaval pra gringo ver. A partir da música de Candeia queremos discutir a elitização da Universidade, a cultura negra, o combate ao racismo e à indústria cultural que ao influenciar o samba e outros estilos também desvirtua-o “da cultura do nosso povo”.

Dia de Graça
Tom:
G#
Introdução:
G# D#7 G G#7
Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
C# G#7 C#
As escolas vão desfilar (bravosamente)
A#m7/5-
E aquela gente de cor
D#7/9
Com a imponência de um rei
G# D#7
Vai pisar na passarela (salve a portela)
G# D#7 G# G#7
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
C# G#7 C#
E ver alegria que sonhamos (durante o ano)
A#m7/5-
E damos o nosso coração
D#7/9 G# Aº
Alegria e amor a todos sem distinção de cor
A#m D#7 G# (F#7 F7)
Mas depois da ilusão, coitado!
A#m D#7 G# D#7
Negro volta ao humilde barracão
(G#m G#m7+ G#m7)C#m
Negro acorda é hora de acordar
D#7
Não negue a raça
G#m
Torne toda manhã dia de graça
F#7 B
Negro não humilhe nem se humilhe à ninguém
Fº D#7 G#7
Todas as raças já foram escravas também
C#m D#7 G#m G#m7
E deixe de ser rei só na folia
C#m D#7 D#m7/5- G#7
E faça de sua Maria uma rainha de todos os dias
C#m D#7 G#m
E cante samba na universidade
E7 D#7
E verá que seu filho será
G# D#7/9
Príncipe de verdade
G# Fm A#m A#7 G# Fm A#m D#7 G#
Aí então, jamais tu voltarás ao barracão


= LANÇAMENTO na Letras =
Dia 13 de maio, 12h50, SALA João do Rio
DEBATE:
Elias GT de negros e negras da CONLUTAS
Candeinha da escola de Samba do QUILOMBO
João Batista Ex-professor da Faculdade de Letras e Biógrafo do Candeia
Roda de samba com feijoada, cerveja e apresentação de Capoeira.
Apoio do CA. de Letras e CAEBA

sexta-feira, 2 de maio de 2008


NÓS QUE AMAMOS TANTO A REVOLUÇÃO
1968 - 40 ANOS

Passeata em Paris, maio de 1968

Barricada na Ocupação da USP, maio de 2007



"Os alunos de Belas-Artes convidam os trabalhadores a vir discutir com eles"
Pixação nos muros parisienses, maio de 1968




Ocupação da Universidade de Pádua, Argentina 1968


Ato no Consuni que desembocou na Ocupação da UFRJ, novembro 2007


"Não ao REUNI de Lula!"
Manifestação estudantil dos 40 anos da morte do Edson Luís, 28 de março de 2008


SEMINÁRIO - 40 ANOS DE 1968
12 a 15 de maio

SEG
Debate 10h - Palácio Gustavo Capanema (rua da imprensa 16, centro)
"1968 no mundo"

Oficina 14h - IFCS, sala 106
Exibição e debates de filmes sobre 1968

Atividade Cultural 18h - Beco do Rato, Lapa
"Samba, choro e cinema"

TER

Debate 10h - Aud. CFCH, Praia Vermelha UFRJ

"Movimento Estudantil e Educação: Atualidade de 1968"


Oficina 14h - Aud. CFCH, Praia Vermelha UFRJ

Grupo Tortura Nunca Mais


Atividade Cultural 18h - Teatro de Arena da UFRJ
Apresentação Teatral

QUA

Debate 10h - Bloco O, Gragoatá, UFF

"1968 sob a ótica da luta de classes"


Oficina 14h

"Os comunistas na década de 60"


Atividade Cultural 18h - Cineclube Oicult

Filme "Os Sonhadores"

QUI
Debate 10h - Sala Celso Lemos, IFCS UFRJ
"Lutas anti-imperialistas e movimentos sociais"


Ato Público 15h

Grande Festa de Encerramento
18h
Ocupação Manoel Congo (Rua Evaristo da Veiga, 17/térreo, Lapa)






Realizadores

DCE UFRJ
CA HISTÓRIA UFRJ
RÁDIO PULGA
GHETTI MARX UFRJ
LEMA UFRJ
DCE UFF
AEROCINE
ASDUERJ
CA HISTÓRIA UFF
CFCH/UFRJ
Fórum de Ciência e Cultura UFRJ
Fundação Mauro Campos
Mandato Chico Alencar, Eliomar Coelho, Marcelo Freixo PSOL/RJ
MST
OICULT
PSTU
PSOL
PCB
SEPE

Debate Violência e Mídia


Quinta-feira
8 de maio


Auditório do CFCH
Praia Vermelha

18 HORAS





Marcelo Yuka

Ex-integrante do Rappa, hoje participa do grupo B.O.C.A.
Paulo Eduardo Gomes
Vereador de Niterói pelo PSOL
Marcelo Salles
Editor do jornal "Fazendo Média"


Realização DCE-UFRJ