segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Cultura do Privado

A disputa pela posse do imóvel invadido pelo Canecão, Bingo Botafogo (hoje Amoedo Room) e Bar e Restaurante, se econtra hoje na sua fase mais aguda. Do imóvel localizado na Lauro Miller nº1, anexado ao Campus da Praia Vemelha da UFRJ, a nossa Universidade detém a propriedade legal mas não a posse. A História se arrasta a 41 anos: esses terrenos foram doados pela UFRJ à ASCB (Associação dos Servidores Civis do Brasil, hoje uma Associação de Faixada onde se escondem o Canecão e Bingo) em 1950 com finalidade cultural, mas bastou 17 anos para que a ASBC perdesse legalmente a posse do terreno para a UFRJ por arrendar para terceiros e usos espúrios, Decreto-lei de 1967.

Se a UFRJ não está empossada devidamente, isso tem raíz nos ?nossos? Poderes Corruptos: à exemplo do Governador Sérgio Cabral (apoiado irrestritamente pelo Lula, diga-se de passagem), que cresceu politicamente fazendo Bailes para a terceira idade no Canecão, e está amarrado até o pescoço na máfia Canecão-Bingo-Amauta-Poder Judiciário-Globo-Artistas Famosos.

Eis que alguma coisa parece andar no nosso país!!!

> Dia 04 de junho foi julgado o ultimo processo que impedia a posse da UFRJ sobre o imóvel da Rua Lauro Muller nº 1, ocupado ilegalmente pelo Bingo. O Bingo perde a causa.

> No dia 13 de junho, a UFRJ obteve uma vitória na luta pela reintegração de posse do imóvel da Rua Lauro Muller, nº1, onde funcionou a antiga sede da Associação dos Servidores Públicos do Brasil (ASCB) e, posteriormente, o Bingo Botafogo.

> A ASCB (Associação dos Servidores Civis do Brasil), que litiga contra a UFRJ pelo terreno, entretanto, interpôs novo recurso; desta vez, com o objetivo de suspender o direito ganho pela universidade. O recurso está em fase de apreciação e julgamento.

> Assim se faz a 41 anos, desde que a UFRJ deteve novamente o imóvel: a rede de influência da máfia-cheia-de-capital chega aos juízes e desembargadores, e estes ignoram todos os julgamentos ganhos pela UFRJ em 1967, 1988, 2002, entre muitos outros, e qualquer recurso em andamento das empresas privadas representadas pela ASCB parece significar definitivamente: a UFRJ nunca porá as mãos em lugar onde se multiplica dinheiro.

TUDO É DECIDIDO, AO NADA SE DECIDIR.

Este é um momento histórico para a comunidade acadêmica e a sociedade debaterem e decidirem: o que a Cultura do Privado faz com nosso país? E isso é benéfico ou maléfico para o povo? No caso da UFRJ, pelo menos está claro: um local que deveria servir para a democratização do espaço, do acesso à cultura, à oportunidade, ao que tem de melhor no popular, hoje é lugar exclusivo de ricos e famosos, de lavagem de dinheiro e de lançamento de poucos artistas completamente acomodados a essa cultura. De fato, é uma Cultura Para Poucos.

O mais curioso a se observar, no entanto, é o outro lado da moeda: quando numa ocupação de sem-teto, sem-terra, um bom advogado consegue liminar de reintegração de posse, em 24 horas vem a tropa-de-choque, polícia, Exército, Marinha, Aeronáutica para garantir o direito de propriedade, e imediatamente ocorre a reintegração de posse da propriedade privada.

Cabe uma letra do Chico Buarque, que ironicamente é sustentado por todo esse esquema podre:

"Esse silêncio todo me atordoa/ Atordoado eu permaneço atento/ Na arquibancada pra qualquer momento/ Ver emergir o monstro da lagoa/ De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)/De muito usada a faca já não corta (Cálice)/ Como é difícil, pai, abrir a porta..."